Brasília tem 4º maior nível de endividamento entre todas as capitais
Inadimplentes são apenas 15% do total. Cartão de crédito é o responsável por 89% das pendências
A poucas semanas do fim do ano, o Distrito Federal deve amargar uma estatística negativa para o bolso do brasiliense: mais de 750 mil famílias de Brasília podem terminar 2018 endividadas. De acordo com o último levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio/DF), de outubro deste ano, pelo menos 755.964 — 3.228 a mais do que em setembro — estão no vermelho atualmente. Segundo a entidade, isso representa 77,9% do total de famílias brasilienses.
Os números colocam Brasília entre as capitais do país com a maior quantidade de endividados. À frente, estão apenas Florianópolis (SC), Boa Vista (RR) e Curitiba (PR). Para o presidente da Fecomércio/DF, Adelmir Santana, apesar do número expressivo, a situação não é considerada desesperadora. Ele destaca que a quantidade de famílias inadimplentes (116.143) mostra que o brasiliense procura resolver as dívidas.
“Dívida, todo mundo tem. Qualquer comprinha em uma farmácia, com cartão de crédito, já é uma dívida. Mas não são todos que se complicam com o pagamento ou atrasam os seus débitos. O nível de inadimplentes incomoda, mas é aceitável. Significa apenas 15% do total de endividados.”
Nessa estatística, está a advogada Samya Palmeira, 29 anos. Desempregada, encontrou na informalidade uma forma de ganhar dinheiro e começou a vender lingeries e produtos de beleza por catálogo. Mas, o que seria uma saída, tornou-se dor de cabeça. “Os clientes deixaram de me pagar, o valor dos itens encomendados recaiu sobre mim, e eu acabei com o nome sujo”, lamenta.
A dívida chegou a quase R$ 500. Com medo de mais golpes, Samya parou com as vendas e tem esperança de quitar a dívida no início do ano. “Estou juntando dinheiro e, se tudo sair como o planejado, conseguirei pagar ainda em janeiro. Enquanto não consigo uma recolocação no mercado de trabalho, pretendo não empreitar serviços como este. Estou enfrentando um drama por causa da irresponsabilidade de outras pessoas.”
Vilões
Pendências com cartão de crédito aparecem no topo da lista dos principais causadores de dívidas no DF, aponta a Fecomércio/DF: 89% das famílias endividadas o têm como maior vilão. Financiamentos de carro e casa, cheque especial, carnês e crédito consignado também são alguns dos motivos que mais consomem o orçamento do brasiliense.
Uma das vítimas do cartão foi o professor de educação física Renan Chiarelli, 23. No ano passado, ele tinha um orçamento de aproximadamente R$ 700 para dividir entre despesas como aluguel, alimentação e transporte. Como nada sobrava para o cartão de crédito, ele ficou cerca seis meses sem pagar nenhuma fatura. “Eu tinha que priorizar algo e, naquele momento, as dívidas no cartão de crédito ficaram em segundo plano. Eu sempre fui cuidadoso com minhas finanças, mas perdi o controle”, relata. Em fevereiro deste ano, Renan entrou em acordo com o banco e parcelou a dívida de quase R$ 4 mil em 15 prestações.
“Felizmente, minha situação financeira melhorou. Ganho R$ 1,8 mil por mês. Além disso, saí do aluguel. Ou seja, uma dívida a menos. O ponto mais importante, contudo, foi a mudança da minha mentalidade. Hoje, eu sou mais consciente”, afirma.
Otimismo
Para os três primeiros meses de 2019, contudo, a expectativa é de que o número de endividados diminua. Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do DF (CDL/DF), José Carlos Magalhães lembra que as parcelas do 13º salário deste ano serão importantíssimas para que o brasiliense acerte o seu orçamento. As mudanças na política local e nacional também contribuem. “Acredito que teremos uma melhora considerável. O novo governo do DF mencionou que conseguiu verbas para a saúde e região metropolitana, o que traz esperança de trabalho. O trabalho significa dignidade e, com dignidade, qualquer um coloca a sua vida em dia”, observa José Carlos.
De qualquer forma, organizar-se financeiramente continuará sendo a maneira mais eficiente no combate às dívidas. Educador financeiro da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Jônatas Amorim recomenda que o brasiliense deixe de ser permissivo ao endividamento e não parcele compras. “As pessoas têm que deixar de ser endividadas para se tornar investidoras. Mesmo que signifique um sacrifício temporário, o ideal é ter a cultura de poupar antes, definir objetivos e não gastar com coisas que não têm valor”, indica.
Jônatas sugere que cada pessoa anote os seus gastos mensais. “Assim, podemos saber para onde vai o dinheiro e entender quais são os maiores gastos. Tudo o que for supérfluo, deve ser cortado. Com um novo modelo de orçamento, mais enxuto e consciente, qualquer um pode ajustar sua vida financeira. Devemos ter tolerância zero com dívidas e riscar essa palavra do nosso dicionário.”
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE